segunda-feira, janeiro 30, 2006

Batem leve...

…levemente
Ontem houve magia. Nevou.
Nevou na minha aldeia. Como há mais de vinte anos, fui desperto pela mansa mão da minha mãe.
- Vem ver. Está a nevar!
Mais tarde, quando no colégio, também nevou. Já passaram alguns anos para além dos dez. Pátio alvo. Guerra de bolas de neve. Professor de filosofia com uma nas ventas.
Boas recordações. Dias que nunca esquecem.
Todavia, foi em tenra idade, na escola primária, que me ensinaram a “Balada da Neve”, que agora pesquisei.
Um poema de Augusto Gil, fiquei a saber.

BALADA DA NEVE
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
– e cai no meu coração.
Augusto Gil

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Se foram...

...festas, que tenham sido boas. E as entradas ainda melhores.
Informo que ainda faço parte deste mundo. E dar a gasta desculpa: Tempo. Tempo que dê tempo de «faz[er] um filho às palavras».