O Zé...
...sempre igual a si próprio.
Já aqui falei dele. O filho do Ti'Rafael. Não sei se se lembram.
Uma manhã destas, telefonou-me. Queria almoçar comigo num restaurante que o tinha maravilhado. Tínhamos de pôr a conversa em dia, decidira. Acedi.
Ao cabo de menos de meio dia, duas meias buzinadelas anunciavam a chegada do Zé ao meu estaminé. Inchadíssimo, sai do topo de gama novinho em folha, acertando o cabelo luzidio, de tão empastado em gel.
Estava percebido o almoço.
Só para chatear, nem uma palavra lhe disse sobre a bomba. Já o café e digestivo eram servidos, e nada. Falámos dos temas habituais. Dos que é possível falar com o Zé, claro está. Quais? Está visto: gajas, dinheiro, noite; dinheiro, gajas da faculdade e noite; gajas da sua empresa, noite e dinheiro; e noite, gajas do prédio e dinheiro...
Desde os tempos da faculdade até hoje -em que é testa de ferros de um grupo africano com interesses em terras lusas- que assim é o Zé. Temas de conversa que vão para além destes, só se for para falar de carros, ou debitar uma meia dúzia mal parida de clichés sobre o estado da nação.
Num acesso misto de ingenuidade e esperança, ainda lhe perguntei:
- Então e a empresa? Como vão os negócios?
- Eh pá, isto está tudo fo**** mas a coisa vai andando.
- Mas consta-me que estás a exportar bem. Retorqui.
- Pá, não se está mal, mas o Governo é que dá cabo desta me*** toda.
- Pois... Respondo, fascinado com a lição de macroeconomia recebida.
O empregado do Carlton já trazia a conta do almoço. Melhor aviada que o dito, diga-se.
O Zé não perdeu tempo. Puxa da carteira Louis Vuitton, que põe em exposição em cima da mesa, e saca de um dos dos gold, enquanto o outro cai para o chão, num truque ensaiado, que escusava de performar para mim. Faz questão de pagar!
Assina o talão com a Cartier em ouro e fica a brincar com ela na mão, enquanto exibe o pulso que sustenta o Frank Müller.
- Bem, vamos andando? Já são horas! Desafiei, passava das quatro.
Num gesto de habitué, chama o garçon que lhe veste o blazer. O botão de punho fica preso na manga.
- Porra, pá. Dei uma fortuna por este fato da Zegna e a m**** destes botões dão-me cabo do forro. -desabafa- Compreio-os em Milão no Verão passado. São uns Versace. Porreiros, não são? Custaram-me uma fortuna. E este cinto da Mont Blanc? Foi a Cátia que m'o ofereceu, quando andava com ela.Lembras-te da gaja? Aquela das mamas grandes que andava em Economia...
- Não... sinceramente, não estou a ver. Respondi, com o ar de vamos-mas-é-embora-que-já-estou-farto.
Do restaurante para o elevador, do elevador para a garagem, da garagem para meu escritório, o Zé continuava o seu exercício preferido: pavonear-se. Da gravata nova Hermés, passando pelos sapatos não-sei-das-quantas, ao apartamento que comprou na Expo, até, finalmente, ao carro novo, o Zé não parou. Estava no seu melhor. Desde que o conheço que assim é. O que ele realmente faz? Nem ele sabe muito bem. Mas a coisa vai andando. Isso é que importa.
Finalmente, vejo a porta da empresa.
- Oh Fadista, quem é aquela boazona que supervisiona o teu call center? É competente? Pergunta com o ar que estão a adivinhar.
O Zé. Sempre igual a si próprio. E a tantos outros, afinal.
Não me diga? Também o conhece?
Já aqui falei dele. O filho do Ti'Rafael. Não sei se se lembram.
Uma manhã destas, telefonou-me. Queria almoçar comigo num restaurante que o tinha maravilhado. Tínhamos de pôr a conversa em dia, decidira. Acedi.
Ao cabo de menos de meio dia, duas meias buzinadelas anunciavam a chegada do Zé ao meu estaminé. Inchadíssimo, sai do topo de gama novinho em folha, acertando o cabelo luzidio, de tão empastado em gel.
Estava percebido o almoço.
Só para chatear, nem uma palavra lhe disse sobre a bomba. Já o café e digestivo eram servidos, e nada. Falámos dos temas habituais. Dos que é possível falar com o Zé, claro está. Quais? Está visto: gajas, dinheiro, noite; dinheiro, gajas da faculdade e noite; gajas da sua empresa, noite e dinheiro; e noite, gajas do prédio e dinheiro...
Desde os tempos da faculdade até hoje -em que é testa de ferros de um grupo africano com interesses em terras lusas- que assim é o Zé. Temas de conversa que vão para além destes, só se for para falar de carros, ou debitar uma meia dúzia mal parida de clichés sobre o estado da nação.
Num acesso misto de ingenuidade e esperança, ainda lhe perguntei:
- Então e a empresa? Como vão os negócios?
- Eh pá, isto está tudo fo**** mas a coisa vai andando.
- Mas consta-me que estás a exportar bem. Retorqui.
- Pá, não se está mal, mas o Governo é que dá cabo desta me*** toda.
- Pois... Respondo, fascinado com a lição de macroeconomia recebida.
O empregado do Carlton já trazia a conta do almoço. Melhor aviada que o dito, diga-se.
O Zé não perdeu tempo. Puxa da carteira Louis Vuitton, que põe em exposição em cima da mesa, e saca de um dos dos gold, enquanto o outro cai para o chão, num truque ensaiado, que escusava de performar para mim. Faz questão de pagar!
Assina o talão com a Cartier em ouro e fica a brincar com ela na mão, enquanto exibe o pulso que sustenta o Frank Müller.
- Bem, vamos andando? Já são horas! Desafiei, passava das quatro.
Num gesto de habitué, chama o garçon que lhe veste o blazer. O botão de punho fica preso na manga.
- Porra, pá. Dei uma fortuna por este fato da Zegna e a m**** destes botões dão-me cabo do forro. -desabafa- Compreio-os em Milão no Verão passado. São uns Versace. Porreiros, não são? Custaram-me uma fortuna. E este cinto da Mont Blanc? Foi a Cátia que m'o ofereceu, quando andava com ela.Lembras-te da gaja? Aquela das mamas grandes que andava em Economia...
- Não... sinceramente, não estou a ver. Respondi, com o ar de vamos-mas-é-embora-que-já-estou-farto.
Do restaurante para o elevador, do elevador para a garagem, da garagem para meu escritório, o Zé continuava o seu exercício preferido: pavonear-se. Da gravata nova Hermés, passando pelos sapatos não-sei-das-quantas, ao apartamento que comprou na Expo, até, finalmente, ao carro novo, o Zé não parou. Estava no seu melhor. Desde que o conheço que assim é. O que ele realmente faz? Nem ele sabe muito bem. Mas a coisa vai andando. Isso é que importa.
Finalmente, vejo a porta da empresa.
- Oh Fadista, quem é aquela boazona que supervisiona o teu call center? É competente? Pergunta com o ar que estão a adivinhar.
O Zé. Sempre igual a si próprio. E a tantos outros, afinal.
Não me diga? Também o conhece?
11 Comments:
Há muitos Zés por aí... acho que no nosso país é melhor trabalhar com um amigo medíocre do que com alguém realmente competente... são coisas da vida.
É por essas e por outras que eu continuo à procura de trabalho. Repara que eu disse TRABALHO e não EMPREGO.
Zés é que não faltam por estas bandas... :-(
...atão não conheço?!
Por acaso o "meu" chama-se Manel; mas é igualzinho nos "apetrechos & ferramentas". Não lhe chegou licenciar-se em Gestão de coisa nenhuma; tirou também um mestrado de Ostentação...
Somos um país feito para Zés. Contudo, continuo acreditar que é possível ter sucesso, gostar de ver uma mulher lindíssima, usar o Frank Müller, ter um bom carro e ser interessante, ...sem se ser um Zé. Não é Fadista?
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Caro Dinis,
uma realidade que vale para o trabalho, para o emprego...; uma realidade de ontem, de hoje, de amanhã... Uma realidade triste. Mais triste, porque real.
Elvira,
por essas bandas que também são as minhas, por outras que são as da minha vivência, por outras que não conhecemos... Há-os por todo o lado!
Estimado Legível,
há-os Manéis, Zés, Belarminos e Asdrúbais... Licenciados, com a escolaridade obrigatória, mestrados e doutorados. Alguns até com Honoris Causa.
Caríssimo Goth Mortens,
concordo perfeitamente. O equilíbrio é tudo na vida!
Coitado do Zé...! Está "poordoado"...
Enjoyed a lot! » » »
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