segunda-feira, julho 25, 2005

Um destes dias...

...cruzei-me com uma cena avulsa -ou, pelo bizarro, o quis crer-, mas, no outro dia, vi-a repetir-se. E outra vez, e outra...
Uma situação daquelas que, ao longo da minha vida, já me tinha cruzado algumas vezes. Ingenuamente, sempre as quis crer avulsas.
Mas, de tantas avulsas, tive de baixar os braços à evidência.
Lia "O Crime d'Eça", quando encontrei a perfeita transcrição -que há tanto procurava- do que gritavam os olhos d'outros, quando os observava e, inocentemente, os então julgava... avulsos.
Gritavam, de forma muda, como se não houvesse amanhã:
«Se tu soubesses como eu te quero, querida Ameliazinha, que até às vezes me parece que te podia comer aos bocadinhos!».
E suplicam, seguidamente, com alguma ousadia, permitida por os olhos não se fazerem ouvir:
«Responde pois e dize se não te parece que poderia arranjar-se a vermo-nos no Morena, pela tarde. Pois eu anseio por te exprimir todo o fogo que me abrasa, bem como falar-te de coisas importantes, e sentir na minha mão a tua que eu desejo que me guie pelo caminho do amor, até aos êxtases duma felicidade celestial».
Depois, enquanto rodam a cabeça à procura de outra Afrodite, vem a "lucidez" e resignação -quando a elas há lugar-:
«Adeus, anjo feiticeiro (...)».
Citações que conseguem dizer aquilo que há anos e anos -de forma avulsa!- via.

Mas, afinal, quem os nunca os viu? Numa discoteca, num bar -e ficamos por aqui-...
Aqueles que, de copo na mão, -com tantas pedras de gelo, quantas décadas denunciam os grisalhos, e, noutras vezes a careca, quando não os brancos pintados- e, de cotovelo apoiado no balcão, com o sorriso de quem domina a coisa, assediam -quer o seu ego crer- as miúdas com idade p'la metade -ou menos- e se julgam... os reis.
Como diria a minha avó: «Ai filho... triste vida, negro fado!»