sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Mais de 30 anos...

...depois de instituído o regime democrático em Portugal, os sinais de maturidade do dito, tão depressa se parecem afirmar, como desvanecem.
Hoje, a
SEDES apresenta um estudo que alerta para um «(...)mal estar difuso, que alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional» na sociedade portuguesa.

Segundo esta associação cívica, «Em geral o Estado, a esfera formal onde se forma a decisão e se gerem os negócios do país, tem de abrir urgentemente canais para escutar a sociedade civil e os cidadãos em geral. Deve fazê-lo de forma clara, transparente e, sobretudo, escrutinável. Os portugueses têm de poder entender as razões que presidem à formação das políticas públicas que lhes dizem respeito».
Imediatamente, esta manhã, ouvi quem, confessamente, sem ainda ter lido o texto da SEDES, se apressasse a vir caracterizar o mesmo de «tremendista».
Pessoalmente, assino de cruz o estudo. Ao invés, caracterizo-o como realista.
Creio que vai ser visto, por todos nós, com muito menos atenção que os comunicados da protecção civil.
Daqui por uns anos, ainda nos voltaremos a lembrar do mesmo. Aí, lamentaremos nem sequer o ter lido (reflectido, seria demais!?) com a atenção que merece.
Estudo (de leitura obrigatória) disponível
aqui.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

A profissão...

...numa próxima encarnação, poderia ser calceteiro. P’lo menos, em vez de os aturar, sempre lhes dava umas valentes marteladas na cabeça.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

A propósito...

...do entra-e-sai na televisão pública, no editorial do “Meios & Publicidade” (nº 469), Carla Borges Ferreira sintetiza, numa frase, um sentimento generalizado.
Universal? Talvez.
A citação: «De um dia para o outro, a RTP deixou de ser o canal com o qual os portugueses se reconciliaram para passar a ser encarada como a futura ‘velha RTP’».

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Só neste país...

...é que se diz. Só neste país é que alguém (muitos blogs e outros) podem dizer que esta letra do Sérgio Godinho, o/um dos escritores de canções que mais admiro, deverá ser considerada Hino Nacional (ainda que a considere fantástica!).
Não perceberão que a letra é -também- deles que fala?
Só neste país.

SÓ NESTE PAÍS
Unamo-nos
Nós somos os famosos anónimos
Mesmo assim já cumprimos os mínimos
Somos todos únicos
Que mais vão querer de nós
Para provar quem vai à frente
Ou fica atrás

Se é por
Ir estabelecer um novo record
Compremos o Guinness
Ao preço que for
E fica o assunto homologado
E sai espumantes
Às vezes dá p'ra um banquete
Ou dele as sandes

Sempre
Complicamos a coisa mais simples
E simplificamos a complicada
Sai em rajada
O tiro pela culatra
Às vezes mata
Às vezes ressurreição
Foi de raspão

(Só neste país...)

Só neste país
É que se diz:
Só neste país
Só neste país
Só neste país
Só neste país
Só neste país

São muitos séculos em morna ebulição
A transitar entre o granizo e a combustão
E um qualquer hino
P'ra qualquer situação
A pessimista, a optimista...
E vai abaixo e vai acima
E vai abaixo, e vai acima (e agora a rima):

Portugal é nosso p'ro bem e p'ro mal

E o mal que está bem
E o bem que está mal
E o bem que está bem

JuroP'lo fado
P'lo baile e p'lo kuduro
Que este país 'inda tem futuro
É verde e maduro
Como a fruta, às vezes brota
Às vezes, consternação
Secou no chão

Por isso unamo-nos
Nós somos os famosos anónimos
Mesmo assim já cumprimos os mínimos
Somos todos únicos
Que mais vão querer de nós
Para provar
Quem vai à frente
Ou fica atrás...

(Só neste país...)

Só neste país
É que se diz:
Só neste país
Só neste país
Só neste país
Só neste país
Só neste país

Portugal é nosso p’ró bem e p’ro mal

Sérgio Godinho

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Cretinos...

...são os outros. Na Exame de Janeiro ’08 (pp. 88-90) encontrei um artigo intitulado «Guerra aos cretinos». Na entrada ao artigo, pode ler-se: «Contaminam o ambiente de trabalho, trazem custos adicionais e desmotivam os colegas. Acabe com eles, antes que acabem com a sua empresa».O artigo, sem novidades, é pouco mais que relevante. Com algum esforço, interessante. Salvo apenas pela caixa que transcrevo abaixo. Uma espécie bitola para identificar o verdadeiro cretino.
1. Insultos pessoais
2. Invasão do espaço físico de trabalho
3. Contacto físico não solicitado
4. Ameaça e intimidação verbal e não verbal
5. Piadas sarcásticas e provocações como forma de insulto
6. Correio electrónico insultuoso e destrutivo
7. Uso do estatuto na empresa para efeitos de humilhação
8. Hábitos de envergonhamento público
9. Interrupções rudes
10. Ataques hipócritas
11. Olhares insultuosos
12. Tratar as pessoas como se fossem invisíveis

PS. 1: Não os há mais refinados?
PS. 2: Empresa: do Lat. prehensa
s. f., empreendimento;
tarefa que alguém se determina a executar;
cometimento ousado;
associação organizada que, sob a direcção e responsabilidade de uma pessoa ou de uma sociedade, explora uma indústria, um ramo de comércio ou outra actividade de interesse económico;
os que dirigem ou administram essa associação;

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Trataram-lhe...

...da saúde. O ministro foi. Foi, não porque fosse incompetente, inábil ou porque as políticas fossem comprovadamente erradas. Foi, simplesmente, porque se criou essa precisa ideia.
A pedido do próprio ou do Primeiro, foi, porque o aproximar das eleições a tal exige.

terça-feira, janeiro 22, 2008

O circo...

...continua. Depois do alvoroço deste estio em torno do caso pequena Maddie, à atrasado, foi apresentado o retrato-robot, sem face, do presumível raptor.
O frenesim amainou.
Agora, foi marcada uma conferência de imprensa para apresentação do retrato-robot, desta feita, com face.
Não existiria uma face à altura? Ou estamos perante a apresentação da colecção de Primavera-Verão? Ou será tão-somente um arremedo, à inglesa, de uma técnica publicitária chamada teaser?

quarta-feira, janeiro 16, 2008

O regresso...

...haveria de chegar. É hoje o dia!
Já desisti das habituais promessas de início de ano que, invariavelmente, ficam por cumprir. Mas, desta é que é. Este malogrado blog voltará a ter vida. Assiduamente.
Sobre encantos ou desencantos, mas voltará.
Até já!

sexta-feira, agosto 17, 2007

Não me belisquei...

...mas doeu. Era (foi, é e será) real. Nesta silly season, fiquei a trabalhar. Assisti a todos os empenhos de outros em ir. Dos destinos paradisíacos em murados resort’s, à Costa. Todos foram. Alegres e contentes.
Na volta, vejo-os apenas empenhados.
Do meu lugar no primeiro balcão, assisto incrédulo a um desfilar de exímios actores numa peça de realidade. A ficção, essa, sou forçado a concluir, vivo-a eu. Não vejo outra suposição admissível.
Se é por causa do nome que lhe deram, não sei. Mas vivemos intensamente a silly season.
A malta continua(?) a ser feliz e, afinal, isso é o que importa!

segunda-feira, julho 09, 2007

Assim vai...

...o "jornalismo" na minha terra. Interessado em saber coisas de Ourém, fui ao blog do “jornal”.
Sem grande surpresa, constato:
- três notícias sobre bombeiros e prevenção de incêndios florestais, somadas, têm 6081 caracteres;
- uma “notícia” que não acrescenta mais informação para além de, em cem dias, o PSD ter “recrutado” 183 novos militantes;
A segunda tem mais 58,18% caracteres que a primeira.
Fica a fria constatação dos números. As ilações, essas, poder-me-iam levar longe demais.

quarta-feira, julho 04, 2007

Quanto maior...

...a ignorância, maior o tamanho da boca aberta.
Constatação empírica, com grau de certeza científico.
Mas e o que dizer de uma boca que abre para além do imaginável, quando o que observa deveria fazer parte das suas competências básicas?
Por oposição, ocorre-me logo incompetência. Será que chega?

quarta-feira, maio 30, 2007

O culto...

...da mediocridade, o orgulho na ignorância, a mesquinhez em doses para dar e vender, o desmesurado interesse na vida do próximo, a inveja do sucesso alheio, a soberba e vaidade ocas...
Sinais da vacuidade de vida de muitas almas -vivas-. Haverá assim tantas por km2 como neste limbo?

quinta-feira, março 01, 2007

Não eram apenas os idos...

...que cantavam com conteúdo. Muitos há também no presente. Aqui, um deles. Um dos que gosto particularmente. Talvez porque permite o estimulante exercício, nesta letra, de lhe dar diversos protagonistas, que não apenas os “rapper’s”.
Fica a sugestão. Fica a letra:

POETAS DE KARAOKE
Rapper's hoje em dia são como a pornografia
Nem todos dão tusa porque há uma oferta em demasia
Ofensa à filosofia da nossa imensa minoria
Não curto plagia, fotocopia pirataria
E unir à varial quem tira a magia original
Yoo reflecte e repete comigo eu agi mal
Só tu sabes o que usaste e quando o bolso tiver gasto
Do topo vais cair e não és bem-vindo como um
Padrasto
É aí que me afasto logo pra baixo com pára-quedas
Não te curto como apanhador nao curto moedas
Boy ouve:
Eu não preciso de regressos com sucessos
Eu faço poesia a maioria faz versos
Esquece os outros mete os pontos nos "i's",
Mete os contos no lixo
Ou sons postos no disco, Ouviste?!
Consistência integridade longevidade na essência
Tens de ter paciência
EU, pus-me na bixa, preenchi a ficha, ganhei uma T-Shirt
Quando ouvi chamar a ficha...kando vi chamar de artista
À 1ª vista era fixe ter a profissão
Sou vocalista de outra lista dos que pensam que são
É relativo todo o título e toda a afirmação
Sou criativo e digo-o com toda a estimação
Digressão é importante mas a tua é ficção
Como dj's que eu vejo nos pratos mandam "mixão"
Sem convicção,
Sinto-me à frente de gente que tem como influencia
Uma Só referência, uma só canção...
São imitação da escrita que limita a direcção
Solicitação evitam, necessitam correcção...

Dizem que cantam o hip-hop, mas não dizem nada, vêm
Com poesia mas é só fachada
O português não tá cansado eles vêm com o inglês,
Eu pratico praticando a nossa língua outra vez
Seja hip-hop, seja rock são poetas de karaoke
Dá um stop se não faz block pros poetas de karaoke,
No teu block no teu stock
É poetas de karaoke, poetas de karaoke, são poetas de karaoke...

Põe a gramática em prática,
Didáctica-o-Dramática mentes entanto técnicas
Poéticas com estéticas
Fonéticas sempre atento ao surpreendente
Com métricas à frente, pra mentes excêntricas
exigentes
Isto é pa todos, não e só pa Mc's
Isto é pa tugas que nunca escrevem na língua raiz
Querem ser internacionais mas tão-se a cagar pra isto
E nunca são originais são Nova york ou Paris
Sempre fui D. Diniz vocês são de onde der mais jeito
Onde houver mais fama e proveito
E se houver mais grana é aceite
E se houver uma dama com bom peito pensam que isso dá respeito...
Confere e confirma a afirmação? Vocês não acordam
Que eu condeno a vossa causa falsa que vocês abordam
Contractos são assinados com condições que não concordam
E as gravatas ficam gratas
Pelos escravos que as engordam
Não há credibilidade na performance
O microfone não tá ligado isso pra mim é no sence
Não percebo o vosso ponto no meu som, eu ponho censo
Porque eu escrevo como falo, como sonho, e como penso...

Dizem que cantam o hip-hop, mas não dizem nada
Vêm com poesia mas é só fachada
O português não tá cansado eles vêm com o inglês,
Eu pratico praticando a nossa língua outra vez
Seja hip-hop, seja rock são poetas de karaoke
Dá um stop se não faz block pros poetas de karaoke,
No teu block no teu stock
É poetas de karaoke, poetas de karaoke, são poetas de karaoke...

Dois palermas: Yehhhhh ouviste aquele som?
Ridículo pah....que nojo pah, que...eu passo-me com aqueles gajos
Eh pah... estes gajos "Sam the kid, Sam the kid"...é
Sempre a mema coisa... e depois vêm com aquelas letras
"Tec te tec te? eh pah...não percebo nada pah...
Nunca gostei de rap pah... de certeza que não foram
À escola... pois não, não sabem escalas... não sabem
escalas... não sabem nada e depois vêm com... é a música
É you know, you think... you are?!?
E só o nome dele é contraditório... pois... SAM THE KID...
O que e aquilo pah... aquilo é inglês, é americano
E kem é ele para me criticar... não é ninguém pah...
Ohh pahh... devias era ouvir música pah... devias era ouvir música
Eles nem escrever sabem pah...o "a e i o u" não?
Eles nem tem a 4ª classe... é o que faço que te aconteço...
Que eles não percebem nada disso... eles não sabem escrever

Sam the kid: Ohhh pessoal...pessoal, é assim, vocês
tão aí a falar a toa mas eu digo-vos já, olha... o meu português...

Não é correcto e sou mais poeta que vocês,
Todos voz do rock pop hip-hop é escrito em inglês,
Com a desculpa que foi a musica que ouviram ao crescer
Nunca precisei de ouvir hip hop tuga pró fazer
Isso é o que dá mais prazer o meu idioma exploração
Vocês tentam outra língua pra tentar exportação
Querem ser os "moonspell" querem novos horizontes
Mas aqui o Samuel é madre Deus é Dulce Pontes
Porque há uma identidade vocês são todos idênticos
Sã autênticos mendigos vendidos por cêntimos
Não compreendem o meu sentimento e mentem
Tentem jornalismo ou não comentem
Vocês fazem turismo de emoções que os outros sentem
Eu faço culturismo de expressões que todos sentem
Porque será que nunca param, param com novo repertório
O vosso não é actual é revista num consultório
E é notório que a história não quer a vossa presença
No relatório da apólice a rejeição foi essa intenção
Eu sei, no que é que eu vi do típico inox duro
Mais que fotocopias obvias que eu chamo de xerox puro
Vais ver com'é sais a pontapé,
Porque eu sou tipo hoofers, tu cais tipo sudré
És um café sem SportTV, com o spot vazio
Não se pode evoluir ao ignorar o desafio
É só preguiça!!!

Sam The Kid

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Portugal...

...é um Brasil kitsch?
Por estes dias, e há alguns anos por esta altura, que há coisas que não compreendo: os dias que precedem a quarta-feira de cinzas e, portanto, o período da Quaresma.
Nas televisões, pivots –com cara de “porque-é-que-isto-me-calha-todos-os-anos”- desfilam desfiles de norte a sul.
O figurino é o mesmo. Invariavelmente.
Eles vestidos delas, elas a arremedar samba, os petizes vestidos de um qualquer super-herói -ou não- da moda, a floribela e mais uns quaisquer personagens de novela brasileira em cima de um reboque ornamentado, que é puxado por um tractor de um dos solícitos jovens agricultores da terra.
E a malta gosta. Faz quilómetros para ver. Paga para ver. Mas ri-se. Diverte-se. Fica feliz. Acabam-se os problemas e as lamentações diárias. É uma espécie de anestesia nacional, qual Brasil.
O ramalhete, de norte a sul, é de um Carnaval kitsch. Nada português, e brasileiro sem o ser. O Carnaval do meu país não tem identidade.
Onde moram os caretos de entrudo? Onde está a nossa identidade de Carnaval?
Já tão pouco me refiro ao sentido religioso-pagão do dito. Aos ritos milenares ada(o)ptados e que ainda hoje lhe subjazem. Nem à festa da carne e seu significado.
Apenas gostaria que tivéssemos uma identidade nessa festa religioso-pagã. Como Veneza, como o Brasil, como muitos outros.
Surpreendentemente -ou não-, o facto é que temos essa identidade. Temos, p.e. os caretos de Trás-os-Montes.
E os media interessam-se por essa tradição portuguesa? Não. Fico triste. E nós, interessamo-nos? Também não. Mais triste fico.
Mas a malta diz que assim é qu’é bom. Para o ano, mais um Carnaval com samba e muita chuva. Como no Brasil...

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Dos namorados...

...hoje é o primeiro dia. Do não convencionado, obviamente!
Mais um dia? Uma vida!
De nós. Dois. Absolutamente um.
Uma nova vida. Uma nova empresa na minha vida.
A contrari, estoutro já longínquo.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

O meu país...

...voltou a ficar enterrado no sofá em dia de referendo. Apenas 43,61% de nós se deu ao hercúleo trabalho de passar pela assembleia de voto e exercer um dever/direito.
As explicações, essas, há-as para todos os gostos e superiores conveniências.
Gostaria de saber qual seria a percentagem de participação se o referendo fosse sobre uma qualquer trivialidade futeboleira.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Os votos...

...agora são outros.
As linhas aqui rabiscadas são ralas. São-no, diria, na inversa medida dos meus espantos.
Acompanho com interesse o debate que se faz a propósito do referendo do próximo dia 11 de Fevereiro.
Fico espantado. Boquiaberto. Aturdido. Desiludido.
Nunca vi e ouvi tanta gente, por quem me acostumei a ter apreço, estima e consideração, a dizer tanta enormidade.
Achaque este, todavia, democrático. Tanto afecta o “sim” como o “não”.
Será que, por uma só vez que seja, não se consegue levar por diante um debate elevado, objectivo e esclarecedor?
Temo que não. Temos que, por isso, muitos votos fiquem na algibeira. Temo que muitos pensem que, apanhar frio por apanhar, mais vale sair de casa para ver o desfilar os entrudos.
Temo que estejamos, uma vez mais, a dar um valente passo para nos destacarmos no pelotão da frente para o tão invejado carnaval e futebol.
Fátima e fado, esses, já estão démodé.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Os votos...

...são os de sempre.
Se forem Festas, que sejam Boas! As entradas, essas, que sejam ainda melhores!

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Pre...

...conceitos.
«É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.»
Albert Einstein

segunda-feira, novembro 27, 2006

A nossa homenagem...

...a Mário Cesariny de Vasconcelos. Pintor e poeta. Surrealista maior que o surrealismo luso.
aqui e aqui lhe havíamos feito referência.
Ontem, ninguém sabia quem era. Hoje, todas as exultações. Será sempre assim?


FAZ-ME O FAVOR...

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor -muito melhor!-
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny

segunda-feira, novembro 06, 2006

Anos 80...

...em português. Também os houve.
O tempo era de vacances. E chovia, se Deus a dava (diria a minha avó).
Assédio óbvio para a artéria melomaníaca. Fui vasculhar. Vasculhar e encontrar e ouvir e agora não conseguir evitar de, imodestamente, partilhar um conjunto de conjuntos (terminologia da época em que os vidoclips, se chamavam telediscos!) que ouvi por estes dias.
Conjuntos, bandas, grupos (fica ao critério da idade do leitor) e intérpretes a solo que já desapareceram do espectro musical português, ou se encontram num limbo de onde teimam em não voltar.

Ei-los:
Afonsinhos do Condado
António Variações
Ban
Da Vinci
Doutores & Engenheiros
Jáfu’Mega
Jorge Palma
Lara Li
Lena d’ Água
Lx – 90
Mata-Ratos
Peste & Sida
Pilar
Pop Dell’Arte
Radar Kadafi
Rádio Macau
Ritual Tejo
Sétima Legião
Sitiados
Táxi
Trabalhadores do Comércio
Trovante
UHF
Zero

Vale a pena abrir o baú. Mais vezes. Abra também o seu!
Acho que há alturas em que me dou bem com o saudosismo. Não a doutrina.

terça-feira, outubro 17, 2006

Ombrear sequer...

...com este sítio, é objectivo que não persigo. Mas porque, como dizia também a minha avó, «perguntar não ofende», alguém me sabe dizer se há coisa mais rasteira e execrável que a inveja?

terça-feira, outubro 10, 2006

A minha rádio...

...mudou.
Emoção: não gostei. Nada. Senti o meu passado amputado.
Razão: afinal, a minha rádio continua. Noutra frequência, com as mesmas pessoas, voltada para Ourém. É isso que importa.
Lucidez: afinal, a minha rádio já morou nos 103.6fm. Afinal, a minha rádio já se chamou Rádio Clube de Ourém, e, mesmo antes, Top Rádio Livre. Agora, simplesmente, a ABC Portugal dá lugar à minha ABC Rádio.
Balanço: Velho do Restelo, penso para mim mesmo. Mas com capacidade regenerativa.
À parte: O programa da Lélita e os discos pedidos vão continuar no ar. Pertencem àquele património que, não o apreciando, na possibilidade o perder, o valorizamos como nunca antes. Nunca pensei...
Conclusão: O que interessa, é que poderei continuar a ouvir a Rádio Ourém de sempre.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Judiciosa...

...citação.
«Há pessoas tão pobres, tão pobres, tão pobres, que a única coisa que têm é dinheiro».
Manolo Bello in.: Única

segunda-feira, agosto 14, 2006

Agosto...

...é o mês deles. No ano passado efabulei umas linhas sobre os inevitáveis emigrantes. Este ano, tempo e inspiração não alinham com Saturno... e não sai uma linha que se leia.
Assim sendo, fica a proposta criteriosamente seleccionada de uma música sempre recomendável, que versa a temática. Ouvir aqui!
Já agora, não resisto a partilhar uma conversa entre emigrantes que ouvi num dilecto estabelecimento comercial de venda de palhete:
- «Pá, ê já ‘tô a tratar da retrete, e mais ano, menos ano, venho-me de todo.
- Eu cá, cumpadre, vá me vim de todo, vai para dois anos, veja lá!»

terça-feira, julho 11, 2006

A ementa...

...de há coisa de um mês. Injusta degustação. Nem prova pareceu, o que lenta e voluptuosamente deveria ter sido degustado.

> ALBERTO CAEIRO
Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.

> ALEXANDRE O’NEILL
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

> ÁLVARO DE CAMPOS
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

> ANTERO DE QUENTAL
Um sonho me acordou… não sei que tinha…
Pareceu-me senti-lo aqui tão perto…
Seja alta noite, seja num deserto,
Quem ama até em sonhos adivinha

> ANTÓNIO ALEIXO
Sei que pareço um ladrão...
Mas há muitos que eu conheço
Que, sem parecer o que são,
São aquilo que eu pareço.

> ANTÓNIO BOTTO
Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!

> ANTÓNIO RAMOS ROSA
Não posso adiar para outro século a minha vida
Nem o meu amor
Nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração

> BOCAGE
A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se eleva a grau supremo;
Paixão requer paixão, fervor e extremo;
Com extremo e fervor se recompensa.

> CAMILO PESSANHA
Águas claras do rio! Águas do rio,
Fugindo sob o meu olhar cansado,
Para onde me levais meu vão cuidado?
Aonde vais, meu coração vazio?

> CESÁRIO VERDE
Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.

> DAVID MOURÃO-FERREIRA
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes…

> EUGÉNIO DE ANDRADE
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

> FERNANDO ASSIS PACHECO
Porque eu amo-te, isto é, eu dou cabo
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra.

> FERNANDO PESSOA
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

> FLORBELA ESPANCA
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

> FRANCISCO RODRIGUES LOBO
Fermoso rio Lis, que entre arvoredos
Ides detendo as águas vagarosas,
Até que üas sobre outras, de invejosas,
Ficam cobrindo o vão destes penedos;

> JOÃO ROIZ DE CASTELO-BRANCO
Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

> JORGE DE SENA
Fere-me esta idolatria mais do que todos os crimes:
Tanto fervor desviado e perdido!
Tanta gente ajoelhando à passagem do tempo
E tão poucos lutando para lhe abrir caminho!

> JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS
Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.

> JOSÉ RÉGIO
Olhámo-nos um dia,
E cada um de nós sonhou que achara
O par que a alma e a carne lhe pedia.

> LUÍS DE CAMÕES
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

> MANUEL ALEGRE
Há um caminho marítimo no meu gostar de ti.
Há um porto por achar no verbo amar
Há um demandar um longe que é aqui.
E o meu gostar de ti é este mar.

> MÁRIA TERESA HOTA
Como é possível perder-te
Sem nunca te ter achado
Nem na polpa dos meus
Dedos
Se ter formado o afago

> MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS
É preciso dizer rosa em vez de dizer idéia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem

> MÁRIO DE SÁ CARNEIRO
Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.

> MIGUEL TORGA
Dorme e sonha a meu lado
Tão alheia de mim
Que me sinto um amante abandonado...
Acordá-la?
Gritar?
O poeta é uma angústia que se cala
A cantar.

> NATÁLIA CORREIA
De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

> PEDRO HOMEM DE MELO
Aquela praia-contraste
Entre a liberdade e a lei
(Aquela praia ignorada!)
Foste tu que ma mostraste
Ou fui eu que a inventei?

> RICARDO REIS
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.

> SÁ DE MIRANDA
Quando eu, senhora em vós os olhos ponho,
e vejo o que não vi nunca, nem cri
que houvesse cá, recolhe-se a alma a si
e vou tresvaliando, como em sonho.

> SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!

> VITORINO NEMÉSIO
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

quarta-feira, maio 31, 2006

Liberdade...

...é isto. Escrever. A toda a hora. De quando em vez. Pouco. Simplesmente, nunca.
É estar solitariu e deixar de o estar. Em breve. Em liberdade. Em distinta companhia. Em dia do poeta e do país.
Liberdade é sempre uma simples coisa: escolha.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Dos namorados...

...hoje é o último dia. Do convencionado, obviamente!
Mais um dia? Uma vida!
De nós. Dois. Absolutamente um.

FERMOAS E GENTIL DAMA
Fermosa e gentil Dama, quando vejo
a testa de ouro e neve, o lindo aspeito,
a boca graciosa, o riso honesto,
o colo de cristal, o branco peito,
de meu não quero mais que meu desejo,
nem mais de vós que ver tão lindo gesto.
Ali me manifesto
por vosso a Deus e ao mundo; ali me inflamo
nas lágrimas que choro,
e de mim, que vos amo,
em ver que soube amar-vos, me namoro;
e fico por mim só perdido, de arte
que hei ciúmes de mim por vossa parte.

Se porventura vivo descontente
por fraqueza d'esprito, padecendo
a doce pena que entender não sei,
fujo de mim e acolho-me, correndo,
à vossa vista; e fico tão contente
que zombo dos tormentos que passei.
De quem me queixarei
se vós me dais a vida deste jeito
nos males que padeço,
senão de meu sujeito,
que não cabe com bem de tanto preço?
Mas inda isso de mim cuidar não posso,
de estar muito soberbo com ser vosso.

Se, por algum acerto, Amor vos erra
por parte do desejo, cometendo
algum nefando e torpe desatino,
se ainda mais que ver, enfim, pretendo,
fraquezas são do corpo, que é de terra,
mas não do pensamento, que é divino.
Se tão alto imagino que de vista
me perco (peco nisto),
desculpa-me o que vejo;
que se, enfim, resisto
contra tão atrevido e vão desejo,
faço-me forte em vossa vista pura,
e armo-me de vossa fermosura.

Das delicadas sobrancelhas pretas
os arcos com que fere, Amor tomou,
e fez a linda corda dos cabelos;
e porque de vós tudo lhe quadrou,
dos raios desses olhos fez as setas
com que fere quem alça os seus, a vê-los.
Olhos que são tão belos
dão armas de vantagem ao Amor,
com que as almas destrui;
porém, se é grande a dor,
co a alteza do mal a restitui;
e as armas com que mata são de sorte
que ainda lhe ficais devendo a morte.

Lágrimas e suspiros, pensamentos,
quem deles se queixar, fermosa Dama,
mimoso está do mal que por vós sente.
Que maior bem deseja quem vos ama
que estar desabafando seus tormentos,
chorando, imaginando docomente?
Quem vive descontente,
não há-de dar alívio a seu desgosto,
porque se lhe agradeça;
mas com alegre rosto
sofra seus males, para que os mereça;
que quem do mal se queixa, que padece,
fá-lo porque esta glória não conhece.

De modo que, se cai o pensamento
em algüa fraqueza, de contente,
é porque este segredo não conheço;
assi que com razões, não tão somente
desculpo ao Amor do meu tormento,
mas ainda a culpa sua lhe agradeço.
Por esta fé mereço
a graça, que esses olhos acompanha,
o bem do doce riso;
mas, porém, não se ganha
cum paraíso outro paraíso.
E assi, de enleada, a esperança
se satisfaz co bem que não alcança.

Se com razões escuso meu remédio,
sabe, Canção, que porque não vejo,
engano com palavras o desejo.
Luiz Vaz de Camões

Amanhã...

…também é dia dos namorados. E depois. E depois também. E por aí a diante…
Digo eu…
Para muitos demais, é hoje. Exclusivamente.
Até que enfim, dirão muitos. Aqueles para quem a data, o dia, a comemoração, a envolvente… tudo isto, diz muito. Muita gente.
A mim, pouco. E assumir pouco, resulta de alguma vergonha que tenho em dizer nada.
O amor, o namoro, o outro… não tem dia. Comemora-se, pelo menos, 365 dias por ano. De quando em vez, 366.
Aparte destas minhas manias, este dia deu-me pretexto para partilhar este excelente texto de MEC.
A ler.
A reflectir.
Sejam felizes!

ELOGIO AO AMOR
Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.
Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido.
Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".
O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.
Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas,farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor.
É essa beleza.
É esse perigo.
O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode.
Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A"vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária.
A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém.
Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder.
Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
Miguel Esteves Cardoso

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Sugestão...

…para o dia dos namorados
Arranje um/a!
Má sina? Engenho e arte não ajudam?
Roube um/a!
Tem uma semana.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Pessoa...

…ou melhor: Campos. Álvaro de Campos.

TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

O maior dos meus 1001 está a meses de ser.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Batem leve...

…levemente
Ontem houve magia. Nevou.
Nevou na minha aldeia. Como há mais de vinte anos, fui desperto pela mansa mão da minha mãe.
- Vem ver. Está a nevar!
Mais tarde, quando no colégio, também nevou. Já passaram alguns anos para além dos dez. Pátio alvo. Guerra de bolas de neve. Professor de filosofia com uma nas ventas.
Boas recordações. Dias que nunca esquecem.
Todavia, foi em tenra idade, na escola primária, que me ensinaram a “Balada da Neve”, que agora pesquisei.
Um poema de Augusto Gil, fiquei a saber.

BALADA DA NEVE
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
– e cai no meu coração.
Augusto Gil

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Se foram...

...festas, que tenham sido boas. E as entradas ainda melhores.
Informo que ainda faço parte deste mundo. E dar a gasta desculpa: Tempo. Tempo que dê tempo de «faz[er] um filho às palavras».

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Feliz Natal...

...e que 2006 seja pleno de sucessos!
Votos sinceros de O Fadista!

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Quem não conhece...

...um Zé?
Há dias, o Zé, o do ti’Rafael, gripou. -Sim, ele. O carro nunca griparia. Esse, trata-o melhor que à esposa!- Vem ter comigo. Precisava de ir a um especialista.
­- Pá, para uma gripe, vais ao teu médico de família ou ao SAP, aconselho.
- Cá agora!... Ouve lá!? Onde é que foste àquele otorrino... lembraste?
Estava percebido. Teria de ser numa clínica particular. Para o Zé, se fino e caro, igual a perfeito.
Acompanho-o.
Na sala de espera, o silêncio relativo de um ou outro folhear de revista de sociedade é quebrado pelo chinelar de uma enfermeira. Gripado, mas sem que tal lhe afectasse qualidades inatas, o Zé volta a cabeça, saca uma radiografia e cochicha:
- Pá... isto aqui... sim senhor. Muita pinta! Já vi que um gajo paga, mas é bem servido! Muita saúdinha! Muita mesmo... Benza-a Deus!
O Zé, afinal, está no seu estado normal. Descanso.
- Pá, uma vez andei com uma enfermeira... nem queiras saber. Gira! E ca’ganda maluca!... era filha daquele tipo que depois veio a construir aqueles prédios ali na Expo. ‘Tás a ver? Morava lá na rua, por cima da mercearia. Ainda namorei com a gaja uns 3 anos.
Mais uma, pensei. Afinal, em situações como esta, daquelas que calham em conversa, o Zé já me tinha falado de umas seis ou mais. Todas diferentes.
Na monotonia da espera, raciocino: o gajo está-me sempre a falar de uma namorada diferente que teve e que não lhe conheci. Basta um pequeno pretexto para o fazer. Todas têm as mesmas características: todas “boas”, filhas, sobrinhas, enteadas ou parentes de alguém com dinheiro ou conhecido da praça. Todas com um bom carro. Todas usavam Gaultier, Cartier e outros er... Com todas andou uns anos, com todas tem uma história mirabolante (efabulada?) para contar aos amigos, que nem um teen, enfim...
Como tinha tempo, e a Falsh não está nas minhas preferências de leitura, puxo da memória para recordar as histórias do Zé. Começo a fazer contas. Chego a uma conclusão: o Zé namorou mais de 18 anos. Notável.
Conheci-o, namorava com a Maria, agora esposa, e já fomos à festa dos cinco anos de casamento.
Idade? Tenho 29 anos. Ah... a dele? Tem 33.
Estimados, acreditem que um verdadeiro romântico, se for preciso, namora mais anos que aqueles que a vida lhe deu.

terça-feira, dezembro 13, 2005

As desculpas...

...e mais qualquer coisa.
Antes de férias, o trabalho. Em férias, o ócio. Depois de férias, o trabalho; e a mandriice, diga-se.
Finalmente, «depois que o estio se volveu Inverno» -como escreveu Jorge de Sena-, mais difícil fica obedecer a Ary dos Santos: «faz um filho às palavras».
Solução? Tempo. Tempo que dê tempo de «faz[er] um filho às palavras».

quarta-feira, novembro 23, 2005

Perdoai-lhes...

...Senhor!
Há dias em que as novas me deixam estupefacto. Reza a dita que me aturdiu, e me levou a rabiscar as confusas linhas que se seguem: “Vaticano quer impedir acesso dos homossexuais ao sacerdócio”.
Gostava de conseguir compreender. Verdade que gostava. Não consigo. Limitação minha, concerteza.
Pergunto eu: por oposição, é pressuposto/obrigatório os padres, seminaristas e outros que tais serem heterossexuais? Não deveriam ser celibatários, e ponto parágrafo? Não compreendo.
Outras pérolas fui lendo noutros sítios. Pasme-se: «as tendências homossexuais são desordens». De todas, a melhor: «a Igreja é feita de homens e mulheres e o homossexual tende mais para se ligar mais ao homem e pôr de lado o sexo feminino». Que outra coisa tem feito a sacrossanta nos seus mais de 2000 anos?
Misoginia, como escrevi aqui, assenta-lhe que nem uma luva de pelica.
Uma vez mais, não resisto a citar Eça, no agora tão em moda “O crime do padre Amaro”: «(...) convinha-lhe aquela profissão, em que se fala baixo com as mulheres - vivendo entre elas, cochichando, sentindo-lhes o calor penetrante (...)».
«E se me vem agora com coisas de moral, isso faz-me rir. A moral é para a escola e para o sermão. Cá na vida, eu faço isto, o senhor faz aquilo, os outros fazem o que podem. O padre-mestre, que já tem idade, agarra-se à velha, eu, que sou novo, arranjo-me com a pequena. É triste, mas que quer? É a natureza que manda. Somos homens. E como sacerdotes, para a honra da classe, o que temos é fazer costas (...)».
Isto é que eram eclesiásticos a sério, diria Ratzinger.

terça-feira, novembro 08, 2005

A história...

...é sempre a mesma. Quase todos a conhecem. Espero que, maior parte das vezes, mais surrealista que a corrente do autor das sete linhas abaixo.

A HISTÓRIA DA MORAL

Você tem-me cavalgado
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.

Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo.
Alexandre O'Neill

segunda-feira, outubro 31, 2005

E a dona Micaela...

...também a conhece?
«Não podemos continuar aqui a falar... está ali já a dona Micaela a cocar.
Era uma velha, que levantara a cortina de casa numa janela baixa e espreitava com os olhinhos reluzentes e gulosos, a face toda ressequida encostada sofregamente à vidraça. Separam-se então - e a velha desconsolada deixou cair a cortina.»
In.: O Crime do Padre Amaro

A propósito de retratos/caricaturas aqui ensaiadas; no seguimento de outras citações de Eça aqui transcritas; e deste filme.
Pela triste actualidade de palavras escritas em finais do séc. XIX.

terça-feira, outubro 25, 2005

O Zé...

...sempre igual a si próprio.
Já aqui falei dele. O filho do Ti'Rafael. Não sei se se lembram.
Uma manhã destas, telefonou-me. Queria almoçar comigo num restaurante que o tinha maravilhado. Tínhamos de pôr a conversa em dia, decidira. Acedi.
Ao cabo de menos de meio dia, duas meias buzinadelas anunciavam a chegada do Zé ao meu estaminé. Inchadíssimo, sai do topo de gama novinho em folha, acertando o cabelo luzidio, de tão empastado em gel.
Estava percebido o almoço.
Só para chatear, nem uma palavra lhe disse sobre a bomba. Já o café e digestivo eram servidos, e nada. Falámos dos temas habituais. Dos que é possível falar com o Zé, claro está. Quais? Está visto: gajas, dinheiro, noite; dinheiro, gajas da faculdade e noite; gajas da sua empresa, noite e dinheiro; e noite, gajas do prédio e dinheiro...
Desde os tempos da faculdade até hoje -em que é testa de ferros de um grupo africano com interesses em terras lusas- que assim é o Zé. Temas de conversa que vão para além destes, só se for para falar de carros, ou debitar uma meia dúzia mal parida de clichés sobre o estado da nação.
Num acesso misto de ingenuidade e esperança, ainda lhe perguntei:
- Então e a empresa? Como vão os negócios?
- Eh pá, isto está tudo fo**** mas a coisa vai andando.
- Mas consta-me que estás a exportar bem. Retorqui.
- Pá, não se está mal, mas o Governo é que dá cabo desta me*** toda.
- Pois... Respondo, fascinado com a lição de macroeconomia recebida.
O empregado do Carlton já trazia a conta do almoço. Melhor aviada que o dito, diga-se.
O Zé não perdeu tempo. Puxa da carteira Louis Vuitton, que põe em exposição em cima da mesa, e saca de um dos dos gold, enquanto o outro cai para o chão, num truque ensaiado, que escusava de performar para mim. Faz questão de pagar!
Assina o talão com a Cartier em ouro e fica a brincar com ela na mão, enquanto exibe o pulso que sustenta o Frank Müller.
- Bem, vamos andando? Já são horas! Desafiei, passava das quatro.
Num gesto de habitué, chama o garçon que lhe veste o blazer. O botão de punho fica preso na manga.
- Porra, pá. Dei uma fortuna por este fato da Zegna e a m**** destes botões dão-me cabo do forro. -desabafa- Compreio-os em Milão no Verão passado. São uns Versace. Porreiros, não são? Custaram-me uma fortuna. E este cinto da Mont Blanc? Foi a Cátia que m'o ofereceu, quando andava com ela.Lembras-te da gaja? Aquela das mamas grandes que andava em Economia...
- Não... sinceramente, não estou a ver. Respondi, com o ar de vamos-mas-é-embora-que-já-estou-farto.
Do restaurante para o elevador, do elevador para a garagem, da garagem para meu escritório, o Zé continuava o seu exercício preferido: pavonear-se. Da gravata nova Hermés, passando pelos sapatos não-sei-das-quantas, ao apartamento que comprou na Expo, até, finalmente, ao carro novo, o Zé não parou. Estava no seu melhor. Desde que o conheço que assim é. O que ele realmente faz? Nem ele sabe muito bem. Mas a coisa vai andando. Isso é que importa.
Finalmente, vejo a porta da empresa.
- Oh Fadista, quem é aquela boazona que supervisiona o teu call center? É competente? Pergunta com o ar que estão a adivinhar.
O Zé. Sempre igual a si próprio. E a tantos outros, afinal.
Não me diga? Também o conhece?